O sábado na ocupação

Ainda de manhã, a ocupação retomou o controle do portão de acesso à reitoria, que ficou por algum tempo com os seguranças, sem permitirem nem entrada nem saída. Enquanto três estudantes ficavam no controle do portão, anotando o nome de quem entrava, lá dentro a comissão de limpeza trabalhava para garantir a organização. Um mural de avisos foi confeccionado, o almoço providenciado, novas faixas feitas e a programação do resto do dia planejada.

Por volta das 15h30, os ocupantes assistiram ao vídeo de ocupação da reitoria da USP, de maio, contra os decretos do governador José Serra, e ao vídeo da ocupação da reitoria da UECE, de agosto, contra as resoluções que regulamentavam os cursos pagos da instituição. Em seguida, recebemos a visita da professora Maria do Céu, da Geografia-UFC e da executiva do ANDES-SN, para um estudo do REUNI e com o informe de que o reitor estava em abertura para diálogo e que iria se manifestar até o fim do dia.
Cerca de 50 estudantes fizeram parte do grupo de estudo, que discutiu os desdobramentos que a reforma universitária do Reuni pode ter nas universidades públicas. A cada ponto lido, a professora Maria do Céu expunha as análises do Andes e os estudantes colocavam suas reflexões, abrindo um momento de debate bastante rico. Por exemplo, os 2 milhões de reais a mais são o aumento já previsto da inflação e do crescimento da arrecadação ou é realmente dinheiro a mais? Se for a mais, de onde ele viria, já que a Constituição coloca que o presidente não pode decretar aumento de recursos, e sim, realocação? Os ministros falaram que o Reuni foi decreto porque demoraria muito se tramitasse pelo Congresso, mas os projetos passam pelo Congresso e este é que propõe leis, e não o Executivo que os decreta. O primeiro rascunho do Reuni dizia que a reitoria poderia escolher entrar no Reuni ou não, mas, como isso feriria o princípio da autonomia universitária, no projeto final saiu que a decisão era do CONSUNI; mas ele foi aberto e democrático? Ferem a autonomia. Por isso queremos a revogação do Consuni! E, para piorar, na UFC ainda houve violência dos seguranças contra duas estudantes, quando um grupo forçou a entrada ao saber que, na sala de reunião, o Reuni estava sendo aprovado às pressas para que os estudantes não se pronunciassem. Aos poucos estudantes que estavam na sala foi proibido o direito de voz que o Consuni garante aos estudantes, fossem eles da mesa ou ouvintes. Somos contra essa violência e a favor de mais democracia!

O debate continuou, pensando a proporção aluno/professor. A meta é passar da média nacional de 1/13 para 1/18; embora haja cursos com médias maiores, como o de História, na UFC, que tem 1/21, a meta para que a universidade como um todo aumente, o que implicaria aumento da proporção também para a História. Fazer-se-ia uma expansão sem qualidade. As salas teriam 150 alunos agora? As Humanidades teriam ciclo básico? Os cursos noturnos seriam com professores substitutos, sem dedicação exclusiva à universidade? É importante lembrar que a greve da UECE de 2006, que durou quase 6 meses, começou no campus de Itapipoca por melhoria na infra-estrutura quase inexistente e por mais professores, depois na URCA e então na UECE - como está a expansão da UFC para Quixadá e Sobral? Queremos educação de qualidade pra todos; não queremos expansões inconseqüentes, que só produzam bons números. Também foi importante contextualizar o Reuni como a mais nova etapa da reforma universitária, que começou com Prouni, depois com Sinaes e agora o Reuni.

Após o debate, foi exibido um documentário sobre lutas de trabalhadores, seguido de assembléia e as apresentações das bandas, para concluir a noite.